Rendeiras do Cariri
31/05/2016 09:26 em Geral

Atualmente, boa parte dessas rendeiras está organizada em associações e cooperativas

 

 

A Paraíba possui um polo de Renda Renascença que se concentra especialmente na região do Cariri. É uma arte e um trabalho passados por gerações, que vem cada vez mais ganhando destaque no Brasil e pela moda mundo afora, além de gerar visibilidade, reconhecimento e renda para as artesãs.

 

Recentemente, o governador Ricardo Coutinho esteve na comunidade de Cacimbinhas, distrito de São João do Tigre, Cariri paraibano, para inaugurar o Centro de Comercialização e Produção das Rendeiras Porcina Francisca da Costa, financiado por meio do Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú (Procase), ligado à Secretaria de Estado da Agricultura Familiar e Desenvolvimento do Semiárido. A Casa das Rendeiras, como é chamada, tem cerca de 50 rendeiras cadastradas e recebeu investimento de R$ 300 mil.

 

Renda gera renda

 

“Este dinheiro é para o povo trabalhador, para geração de renda. Temos um importante trabalho na Agricultura Familiar e iremos formar novos convênios a fim de beneficiar ainda mais esta área, que é uma política importante de inclusão produtiva”, afirma Ricardo na ocasião da inauguração, no início de maio.

 

Aparecida Henriques, gerente de Desenvolvimento Humano do Procase, afirmou que após a inauguração da sede própria, segue o acompanhamento junto às rendeiras, bem como o processo de formação.

 

Em breve, em junho deste ano, deverá acontecer uma oficina sobre gestão, que inclui discussões sobre associativismo e prestação de contas.

 

O apoio do Procase acontece ademais na participação das profissionais na edição do Salão de Artesanato em Campina Grande, também em junho. Segundo a gerente, futuramente deverá acontecer uma oficina de design.

 

Todas as formações são oferecidas para as rendeiras do Cariri, que incluem a Associação de Resistência das Rendeiras da Comunidade de Cacimbinha (Arca) e também a Cooperativa de Produção de Bens e Serviços de São João do Tigre (Coopetigre).

 

Lucivânia Queiroz, sócia da Arca, afirmou que a nova sede veio para ajudar a produção e o próprio encontro das mulheres, que antes não possuíam local para se reunir.

 

“O espaço veio para fortalecer a organização da produção e comercialização dos produtos de Renda Renascença e esperamos que venha contribuir bastante para a comunidade”, destaca.

 

Anatália Aparecida da Silva é a atual presidente da Arca, uma associação que já tem vários anos de trabalho, atuando desde 1998.

 

 “A Associação vem de longos anos de luta. São várias mulheres que trabalham aqui. Comercializamos em salões e feiras de artesanato. Mas agora com este ponto de encontro e comercialização, podemos expandir, trazer pessoas de fora para visitar a Paraíba e para conhecer nossa renda” relata.

 

História

 

A Renda Renascença é uma atividade artesanal e uma técnica têxtil surgida no século XVI, tendo origem em Veneza, na Itália.

 

Chegou ao Brasil pela mão das mulheres dos colonizadores europeus e passou a fazer parte das tradições rurais do semiárido do Nordeste brasileiro.

 

Há influência muito forte também das freiras estrangeiras que, nos conventos, ensinavam este tipo de trabalho às alunas.

 

A Renascença chegou à Paraíba na década de 1950 pelas mãos de algumas mulheres que residiam nos municípios de Camalaú, São João do Tigre, São Sebastião do Umbuzeiro e Zabelê, que na época eram todos distritos da cidade de Monteiro.

 

No Estado, os municípios que concentram a produção da Renda são Monteiro, Camalaú, São João do Tigre, São Sebastião do Umbuzeiro, Prata, Congo, Sumé e Zabelê. Nesse território, há o registro de pouco mais de quatro mil artesãs, aproximadamente 20% da população feminina na região.

 

Atualmente, boa parte dessas rendeiras está organizada em associações e cooperativas.

 

O município de São João do Tigre, possui uma população de cerca de 4.500 habitantes, de acordo com o último censo do IBGE e tem uma área territorial de 816 km².

 

Na cidade, a quantidade de rendeiras que ainda produzem a Renascença chama a atenção. É comum ver pelas calçadas, mulheres sentadas com suas almofadas e tecendo suas rendas.

 

A Renascença chegou a São João do Tigre por volta de 1960 e, por muitos anos, a Renda foi a atividade econômica de destaque no município. Atualmente, a Renascença resiste como um complemento da renda familiar ou como atividade prazerosa. Muitas mulheres dividem a atividade de rendeira com as tarefas de dona de casa ou da agricultura.

 

A história da Renascença no Cariri paraibano passa pelo histórico das associações de rendeiras nessa região.

 

Desde antes do surgimento das associações, era constante o envolvimento de atravessadores na comercialização da Renda, que compravam o material das rendeiras por um baixo preço e revendiam por preços elevados.

 

A presidente da Arca, Anatália da Silva, contou que há casos de pessoas que compram a renda da Paraíba e vendem em outros estados e até outros países afirmando que é de Sergipe - provavelmente para evitar crime de autoria.

 

A presença de atravessadores comprando os produtos das rendeiras a preços baixos e revendendo a altos preços foi algo reiterado nas falas do governador Ricardo Coutinho em sua viagem a várias cidades do Cariri em maio deste ano.

 

Afirmando que o incentivo do Governo do Estado e a presença de cooperativas podem ajudar a evitar este tipo de transtorno, Anatália da Silva afirmou que a nova sede do Centro de Rendeiras deve ajudá-las a ter contato e receber pessoas de fora que queira comercializar suas peças tendo maior participação das produtoras nesse processo.

 

Em 2010, as rendeiras da Arca começaram a participar de espaços de comercialização. Todas as artesãs fazem parte do Programa de Artesanato Paraibano (PAP) e por várias vezes participaram de edições do Salão de Artesanato da Paraíba. Em 2011, a Arca teve acesso ao programa Empreender Paraíba, uma política pública de microcrédito para atender empreendedores locais residentes no Estado. No ano seguinte, em 2012, a Associação participou do programa Empreender Mulher.

 

Um ponto em comum apontado pelas rendeiras e instituições é sobre a necessidade de garantir a difusão e perpetuação da Renda Renascença, uma vez que é um trabalho transmitido basicamente por gerações e publicações sobre o tema são raras. O conhecimento é transmitido oralmente e pela prática.

 

O patrimônio e a herança da Renascença estão muito nas memórias das mulheres, dos pontos aos desenhos.

 

 

Radio Caruá Fm

Com: Heleno lima

 

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