Mesmo trabalhando os sete dias da semana, nem sempre eles chegavam a receber o pagamento, por causa dos itens que eram descontados.
Além disso, Airton afirmou que os trabalhadores eram ameaçados caso tentassem fugir do local.
Traumas e medo de sair de casa
Otávio e Airton (nomes fictícios) foram resgatados em uma operação que tirou 43 trabalhadores de situação análoga à escravidão em Ituporanga, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, em novembro de 2020. De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), todas as vítimas eram nordestinas.
Após o retorno para casa, Otávio firma que ficou traumatizado e por algum tempo tinha medo de sair de casa.
A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano acompanha os casos de paraibanos resgatados do trabalho escravo ou do tráfico de pessoas e oferece políticas públicas de reinserção socioeconômica dessas pessoas, como cursos profissionalizantes.
Otávio, um dos jovens resgatados, agora está em São Paulo, trabalhando com carteira assinada, mas pretende voltar para a Paraíba e tem o sonho de ser bombeiro. Já Airton voltou para casa, onde trabalha como pescador.
Com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância do combate ao tráfico de pessoas e ao trabalho análogo à escravidão, o Ministério Público do Trabalho (MPT) promove em julho uma campanha sobre o tema.
Entre as ações programadas, está a segunda temporada da websérie “Tráfico de Pessoas no Brasil”, realizada pelo Projeto Liberdade no Ar do MPT e pela Associação Brasileira de Defesa da Mulher da Infância e da Juventude (Asbrad). Dividida em 18 episódios com debates e pílulas do conhecimento, a websérie está disponível no canal da Asbrad, no YouTube.
De acordo com o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico e Desaparecimento de Pessoas da Paraíba, vinculado à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano, de 2019 até o atual momento, são 45 vítimas no estado, todas do Sertão. No começo de julho, 11 trabalhadores de São Bento foram resgatados de um galpão de produção/comercialização de redes no Ceará. No Brasil, somente no ano de 2019, foram registrados mais de mil casos.
Conforme Vanessa Lima, coordenadora do Núcleo e do Comitê Estadual de Enfrentamento ao Tráfico e Desaparecimento de Pessoas da Paraíba e da Comissão Estadual de Erradicação ao Trabalho Escravo da Paraíba (SEDH), pode haver uma subnotificação de casos.
“Sabemos que esses números são subnotificados, pois teríamos que ter mais fiscalização. Ademais, a população, muitas vezes, tem medo de denunciar”.
É possível denunciar situações de trabalho análogas à escravidão e tráfico de pessoas, de forma anônima, inclusive, pelo Disque 100 - Disque Direitos Humanos. Na Paraíba, há também o Disque 123, do governo do Estado.
FONTE:https://g1.globo.com