A artesã Silvana Pilipenko, paraibana que estava desaparecida na Ucrânia, conseguiu sair da Ucrânia e chegou à Crimeia, região da Ucrânia anexada a Rússia em 2014. Nesta terça-feira (29), Silvana, o marido e a sogra foram localizados e estavam saindo da Ucrânia. Nesta quarta-feira (30), a irmã de Silvana, Mere Vicente, informou que Silvana estava na casa de familiares do marido e agora seguiria viagem para o Brasil, onde deve chegar em cerca de uma semana.
O filho de Silvana, Gabriel Pilipenko, informou ao g1 que Silvana e a família estavam em casa, em Mariupol, quando foram localizados. O engenheiro explicou também que o Itamaraty está ajudando em todo o processo, especialmente funcionário André Mourão, da embaixada Brasileira na Ucrânia.
"Eu achei o transporte, eles me ajudaram com as despesas, com a travessia entre as fronteiras e futuramente com a tirada da minha família da Rússia de volta ao Brasil", disse Gabriel.
Ainda conforme a irmã de Silvana, ela falou no telefone rapidamente com Gabriel e disse que estava bem, mas o sinal do telefone estava muito ruim e não deu pra falar muito bem, nem dar detalhes. Ela não se comunicava com a família desde o dia 3 de março.
"A única certeza que a gente sabe é que ela está viva", disse.
Gabriel Pilipenko estava a trabalho em Taiwan e tentou entrar na Ucrânia para procurar por notícias da mãe. Porém, mudou de ideia ao chegar na Alemanha e ver que a situação se mostrava muito perigosa. Desde então, ele estava na Alemanha tentando contato com a mãe.
Procurado pelo g1, o Itamaraty informou através de sua assessoria de imprensa que está em contato com a brasileira e com seus familiares diretos, por meio do escritório de apoio em Lviv. Disse ainda que a Embaixada do Brasil em Moscou realizou gestões junto ao governo russo para que a brasileira e seus acompanhantes ucranianos tenham saída facilitada da zona de conflito.
Além disso, o Itamaraty afirma que já está ultimando os preparativos para a eventual repatriação ao Brasil.
"Os pormenores de tal operação serão decididos proximamente em conjunto com a cidadã e sua família", informa.
Já a Secretaria da Representação Institucional do Estado da Paraíba disse que o contato com o Gabriel começou há pouco mais de 10 dias e assim conseguiram encontrar o endereço onde ela se encontrava.
Entenda a situação da Crimeia.
A Crimeia, localizada no sul ucraniano, foi anexada pela Rúsia em 2014. No local fica a maior base naval do país no Mar Negro.
A invasão da Rússia na Crimeia foi feita aos poucos. Quando o ex-presidente da Ucrânia, o líder pró-russo Viktor Yanukovych, foi deposto após uma série de protestos, o povo ucraniano estava dividido entre aqueles que queriam uma maior integração com a Rússia e aqueles que apoiavam uma aliança com a União Europeia. E Moscou decidiu intervir.
Em fevereiro de 2014, o presidente russo estava enviando discretamente tropas adicionais para as bases que a Rússia tinha na Crimeia, graças ao Tratado de Partição de 1997.
O primeiro sinal de que a Crimeia estava sendo retirada da Ucrânia aconteceu quando a Rússia montou postos de controle em Armyansk e Chongar, os dois principais cruzamentos rodoviários entre a Ucrânia continental e a península da Crimeia.
Após a queda de Yanukovych, o Parlamento da Crimeia elegeu um primeiro-ministro pró-Rússia e votou pela separação da Ucrânia.
Em 18 de março, dois dias após a publicação dos resultados, Putin oficializou a invasão ao assinar um projeto de lei incorporando a Crimeia à Federação Russa.
Silvana Pilipenko, de 54 anos, havia falado pela última vez com a família no dia 3 de março, quando disse que a cidade estava começando a ser atacada e sofria com quedas de energia. No dia anterior, um vídeo com notícias foi enviado à família
A paraibana disse que a cidade de Mariupol estava cercada e, por isso, não havia como sair de lá.
"A cidade está cercada pelas forças armadas, todas as saídas estão minadas, então é impossível tentar sair daqui nesse momento. Basicamente Mariupol faz fronteira com a Rússia, o país atacante, então não podemos seguir nessa direção. Se fôssemos para outra direção, no sentido Polônia ou Hungria, teríamos que atravessar todo território, o que não seria viável diante das circunstâncias e da distância”, explicou.
Ela também alertou que a comunicação poderia ser dificultada pela falta de energia elétrica.Segundo a sobrinha de Silvana, Beatriz Vicente, o governo brasileiro só informa que há um grupo em um aplicativo de mensagem para que os brasileiros possam entrar em contato e, desse modo, pegar um trem para tirá-los da Ucrânia pela Polônia e, depois, pegar um voo para o Brasil. Mas os cidadãos brasileiros precisam de internet para conseguir entrar em contato. Não há uma equipe específica dentro do país para retirar os brasileirosO Itamaraty, por sua vez, enviou uma nota à imprensa informando que tem conhecimento do caso e que, por meio do escritório de apoio em Lviv, tem mantido contato regular com familiares de Silvana.
A nota diz ainda que organizações internacionais de apoio humanitário presentes em Mariupol já foram acionadas com vistas a tentar localizar a cidadã brasileira.
FONTE:https://g1.globo.com