Na faixa etária de 30 a 49 anos, a média entre as mulheres é de 22,8 horas semanais dedicadas ao cuidado não-remunerado, e 12,1 horas entre os homens. No grupo de 50 a 59 anos, as mulheres têm média semanal de 22,4 horas dedicadas ao cuidado, contra 11 dos homens. Para as pessoas maiores de 60 anos, a média entre as mulheres é 24,7 e a dos homens é 11,3.
Cuidado desde cedoO cuidado com familiares sempre esteve presente na vida de Márcia Andrade, que mora em Uiraúna, no Sertão da Paraíba. Na infância, já assumia os afazeres domésticos. Depois, criou três filhas, hoje todas adultas, cuidou da avó, que já é falecida, e atualmente ajuda a cuidar de duas sobrinhas, uma de 16 anos e outra de nove.
A mulher, que hoje tem 54 anos, relata que gosta de cuidar das pessoas, mas confessa que se tivesse tido mais tempo para si, teria avançado nos estudos. Márcia estudou até a 6ª série do ensino fundamental e hoje trabalha vendendo lanches em uma escola da cidade.
"Em alguns momentos já quis ter menos obrigações, mas eu me sinto bem cuidando das pessoas. Se tivesse tido mais tempo, teria investido mais na minha educação".
As filhas de Márcia Andrade tiveram oportunidades diferentes e todas conseguiram se formar. A mulher acredita que se as mulheres tivessem maior ajuda, inclusive dos homens, poderiam se dedicar mais aos seus planos pessoais.
População paraibana por sexo
Dados da Pnad
20211.980.0001.980.0002.058.0002.058.000HomensMulheres0500k1.000k1.500k2.000k2.500k
Fonte: IBGE
De acordo com dados da Pnad de 2021, a população da Paraíba é de aproximadamente 4.038.000, sendo 1.980.000 homens e 2.058.000 mulheres.
Com relação à população idosa, na Paraíba, há 235 mil homens com mais de 60 anos e 311 mulheres, 32% de diferença.População acima de 60 anos na Paraíba
Por sexo, segundo a Pnad
2021235.000235.000311.000311.000HomensMulheres050k100k150k200k250k300k350k
Fonte: IBGE
Moradores de instituições de longa permanência
Enquanto as mulheres paraibanas gastam mais horas cuidando das pessoas próximas, nem sempre elas são cuidadas por familiares ou amigos quando necessitam. Um exemplo disso é perceptível por meio dos números das instituições de longa permanência. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Humano (SEDH), são 777 mulheres e 455 homens vivendo nestas residências no estado, o que corresponde a 70% de diferença.
Pessoas moradoras de instituições de longa permanência na PB
Por sexo
Homens : 455Mulheres : 777
Fonte: SEDH
Reflexo do machismo estrutural
Para Glória Rabay, pesquisadora em gênero e comunicação e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), as atividades relacionadas ao cuidado são mais atribuídas às mulheres do que aos homens, como um reflexo do machismo estrutural.
"As desigualdades estruturais e o machismo estrutural que a gente pode falar nesse termo recaem sobre as mulheres de forma muito significativa quando a gente vai pensar no cuidado. As mulheres são as responsáveis pelos cuidados com as crianças, com os doentes, com os idosos".
A pesquisadora destaca que, muitas vezes, quando as mulheres precisam ser cuidadas por pessoas próximas, essa necessidade não é atendida, o que justifica serem maioria nas instituições de longa permanência. Glória Rabay ressalta que essa realidade também acontece em hospitais e entre as mulheres privadas de liberdade, que recebem menos visitas do que homens.
"Quando essas mulheres adoecem ou envelhecem, dificilmente elas têm outras pessoas para cuidar delas. Esses números também se repetem nas instituições de doenças mentais e nos presídios. As mulheres encarceradas recebem menos visitas, têm menos parceiros fora do cárcere do que homens encarcerados".
Fonte:https://g1.globo.com