O comércio varejista brasileiro teve queda de 0,5% em agosto em comparação com julho, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (11). A queda no volume de vendas ocorreu após quatro meses de crescimento, período em que houve um ganho acumulado de 2,1%, segundo o IBGE.
Porém, em relação a agosto de 2016, o volume de vendas avançou 3,6%. Segundo Isabella Nunes, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, é o melhor resultado para os meses de agosto desde 2013, que foi de 4,2%. Foi o 5º mês consecutivo de aumento do volume das vendas no varejo em relação a 2016.
Segundo a gerente da pesquisa, o ano passado foi muito difícil para o comércio. “A base de comparação baixa e a conjuntura econômica mais favorável deste ano, com redução de juros e a melhora no mercado de trabalho, ajudaram nessa série de variações positivas”, explicou.
Para Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), apesar da recuperação, o varejo só deve retomar os níveis de 2013 em dois ou três anos.
“[Os dados] refletem uma retomada moderada da economia, o que condiz também com o início de uma melhora da confiança do consumidor”, diz em nota, ponderando que “a crise política retarda o andamento das reformas econômicas, o que impede uma recuperação mais intensa”.
No acumulado do ano houve leve alta de 0,7%, e em 12 meses houve queda de 1,6%. Porém, segundo o IBGE, é o recuo menos intenso para 12 meses desde agosto de 2015 (-1,5%).“Essa sequência de quatro taxas consecutivas positivas não é muito comum na série [histórica da pesquisa]. A outra sequência havia ocorrido entre agosto e novembro de 2014, quando acumulou 2,4%. Vale lembrar que isso ocorreu antes de o setor entrar em crise”, disse a pesquisadora sobre o recuo em agosto após quatro altas consecutivas.
Segundo Isabella, a sequência de quatro taxas positivas no primeiro semestre permite sugerir que o comércio deverá fechar o ano com estabilidade.
A economista afirmou ainda que o resultado negativo de agosto “não cria uma reversão de tendência de crescimento”. “Essa queda de 0,5% ocorre depois de um acúmulo de 2,1%. Ou seja, não reverte o crescimento. É como se esse resultado levasse as vendas de agosto para uma estabilidade”, explicou.
Volume de vendas no país
Desempenho do comércio mês a mês, em %
-0,4-0,4-0,7-0,7-0,5-0,50,90,9-1,7-1,75,25,2-0,2-0,2-1,2-1,21,11,10,20,20,80,800-0,5-0,5Ago/16Set/16Out/16Nov/16Dez/16Jan/17Fev/17Mar/17Abr/17Mai/17Jun/17Jul/17Ago/17-4-20246
Fonte: IBGE
Na comparação com julho, sete das oito atividades pesquisadas tiveram resultados negativos.
As taxas negativas foram em equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-6,7%); tecidos, vestuário e calçados (-3,4%); livros, jornais, revistas e papelaria (-3,1%); combustíveis e lubrificantes (-2,9%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,5%); outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,4%); hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,3%).
Por outro lado, teve resultado positivo o setor de móveis e eletrodomésticos que, com avanço de 1,7%, permaneceu em crescimento pelo quarto mês seguido. Nesse caso, segundo Isabella, pode haver relação com a liberação das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que injetou na economia cerca de R$ 44 bilhões de março a julho deste ano.
“Mesmo que as contas inativas do FGTS não tenham sido convertidas em compras, mas no pagamento de dívidas ou em poupança, isso faz com que as famílias se organizem para um consumo futuro, principalmente desse tipo de bem”, explicou.
Na comparação com agosto de 2016, houve avanço em seis das oito atividades. As principais influências vieram de móveis e eletrodomésticos (16,5%) - quarta taxa positiva consecutiva nessa comparação, seguido por hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,7%) - quinto avanço consecutivo, confirmando a trajetória ascendente do segmento, segundo o IBGE.
Tiveram taxas positivas ainda tecidos, vestuário e calçados (9%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (6,1%), ambos ocupando a terceira maior participação na taxa global.
As demais taxas positivas foram registradas nos setores de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (4,4%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (1,0%). Por outro lado, combustíveis e lubrificantes (-2,9%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-4,4%) reduziram o volume de vendas comparado a agosto de 2016, pressionando negativamente o resultado.
Em relação a julho, houve queda em 17 das 27 unidades da Federação no volume de vendas, com destaque para Amazonas (-3,2%) e São Paulo (-1,7%). Por outro lado, Tocantins (5,5%), Rondônia (3,9%) e Roraima (2,6%) mostraram avanço nas vendas.
Na comparação com agosto de 2016, houve crescimento em 21 unidades da Federação, com destaques para Santa Catarina (16,4%); Acre (12,9%); e Rondônia (12,8%).
O comércio varejista ampliado, que inclui o varejo e as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, ficou praticamente estável em termos de volume (0,1%) frente a julho, com alta nas vendas pelo terceiro mês consecutivo, enquanto a receita nominal teve variação de 0,4%.
Em relação a agosto de 2016, o varejo ampliado cresceu 7,6% no volume de vendas (melhor resultado para agosto desde 2012, quando tinha sido de 15,6%) e 5,1% em receita nominal. O volume de vendas no acumulado do ano cresceu 1,9% no ano e caiu 1,6% nos últimos 12 meses, enquanto a receita nominal registrou taxas de 2,3% e 1,2%, respectivamente.
Isabella destacou os resultados positivos para o segmento de material de construção. Na comparação com o mesmo mês de 2016, agosto registrou alta de 12,6% - a quarta taxa positiva seguida nesta base de comparação. Este foi o melhor resultado na comparação interanual desde fevereiro de 2014, quando houve avanço de 16,7%. As taxas acumuladas também foram positivas: 6,5% no acumulado no ano e 1,5% no acumulado em 12 meses.
“A gente observou que este avanço em matérias de construção se deu no comércio varejista, e não no atacado. Ou seja, são as famílias comprando esses materiais. Sabemos que a renda primeiro é destinada a itens básicos, como alimentação, depois ela é aplicada no consumo para moradia”, apontou.
Em relação às regiões, 24 unidades da Federação apresentaram variações positivas para o volume de vendas na comparação com agosto de 2016, com destaque para Santa Catarina (18,9%), Rio Grande do Sul (17,0%), Amazonas e Espírito Santo (ambos com 15,8%).
FONTE:https://g1.globo.com