Venezuelanos amigos de infância lutam por emprego na PB após dormirem em ruas de Roraima
O que acontece..
Publicado em 24/12/2018

Grupo está junto desde que cruzou a fronteira, há um ano. Jean Carlos, Alejandro, Eduardo e Carlos eram universitários e contam os desafios após cruzarem 6 mil km da Venezuela à Paraíba.

Os irmãos Cabello e Jean Carlos e os primos Alejandro Pereira e Eduardo Marcano se conhecem há mais de 15 anos e juntos passaram pela escola e até mesmo o início da faculdade. Porém, há exatamente um ano, eles dividem juntos o maior desafio de suas vidas: sobreviver como refugiados, distantes mais de 6 mil km de casa.

 

O grupo de amigos nasceu em Maturín, no estado de Monagas, na Venezuela, eram estudantes universitários e devido à crise financeira em seu país de origem, cruzaram a fronteira e chegaram em Roraima em dezembro de 2017. Após 7 meses morando na rua e fazendo bicos para sobreviver, conseguiram, juntos, estar entre os refugiados que foram realocados para a Paraíba em julho deste ano.

A Paraíba já recebeu mais de 100 refugiados venezuelanos. A Casa de Acolhida do Migrante, no Conde, Litoral Sul paraibano, recebeu 98 venezuelanos. Destes, 25 ainda permanecem no abrigo. No Agreste, 9 refugiados passaram por um abrigo na Fazenda do Sol, em Campina Grande, de onde já saíram; 2 foram para o convento Ipuarana, em Lagoa Seca, onde permanecem. Dos que foram acolhidos inicialmente em Campina Grande, 4 ainda moram na cidade, 3 moram em Areia e 2 foram para João Pessoa.Alejandro Pereira, de 26 anos, explica que a maior luta no Brasil é conseguir um emprego sem ser explorado.

“Lá na fronteira a gente dormia na rua. Passamos 7 meses em Roraima, sem conhecer ninguém e vivendo de diárias, limpando quintal. O máximo que a gente conseguia era R$ 20 por dia e esse dinheiro só dava pra comer, foi muito difícil”, diz Alejandro

A primeira cidade onde o grupo ficou na Paraíba foi no Conde, no Litoral Sul. Eles foram acolhidos pela Pastoral do Imigrante e ficaram em um abrigo com outros imigrantes.

“Tínhamos um contrato para ficar na casa dos imigrantes até conseguir uma estabilidade econômica para pagar nosso próprio aluguel e pagar contas. O pessoal da pastoral ajudou a gente a desenvolver melhor o português e encontrar trabalho”, relata Jean Carlos Cabello, de 23 anos.No começo, a situação parecia que ia ser mais fácil. Três dos quatro amigos conseguiram empregos no distrito de Jacumã e usavam os recursos para se sustentar. Porém, com o passar dos dias, eles viram que estavam sendo explorados, trabalhando sem carteira assinada.

 

“Como era o primeiro emprego que a gente tinha conseguido, eles faziam a gente trabalhar até tarde da noite. Só nos pagavam R$ 100 por semana e o empregador achava que estava tudo bem porque ele nos dava o almoço. Por causa da exploração, a gente teve que sair do emprego”, comenta Jean.

 

Um mês depois, com parte do grupo já morando em João Pessoa, no bairro José Américo, os demais resolveram se mudar para a capital paraibana e tentar conseguir trabalho. Em poucas semanas, depois de deixar muitos currículos, três deles conseguiram empregos temporários como instaladores em uma empresa de telefonia, internet e TV à cabo.O emprego durou três meses e a situação voltou a se complicar. Com aluguel em atraso e a energia elétrica cortada, o grupo resolveu se mudar mais uma vez, para o bairro de Mangabeira, na Zona Sul de João Pessoa.

A casa, um imóvel em construção, foi emprestada pela filha de uma mulher que um dos jovens conheceu ao trabalhar em um hospital de João Pessoa. O local não tem acabamento, mas possui telhado, energia elétrica e água encanada, além de portões, portas e janelas. O grupo também tem uma cama, colchonetes e redes. Agora também já conseguiram um botijão de gás e uma geladeira.

Parte do dinheiro recebido no último emprego foi investido na compra de perfumes que eles revendem pelos bairros da capital paraibana. O dinheiro do lucro é dividido entre eles para custear alimentação e ajudar a dona da residência.

A meta para 2019 é buscar emprego fixo e continuar os estudos.

“Nós somos muito agradecidos por essas pessoas que nos ajudam, mas não queremos viver assim sempre. Queremos trabalhar pra poder ir em busca de uma coisa nossa, se sustentar. E terminar o curso superior que tivemos que abandonar quando saímos da Venezuela”, ressalta Jean Carlos.

Os quatro estavam fazendo cursos em faculdades venezuelanas. Jean fazia administração, Eduardo fazia sistemas de informática, Alejandro cursava contabilidade e Carlos havia iniciado agronomia.

“Fomos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e conhecemos a professora de espanhol, que nos fez contato com a reitoria. Vamos tentar voltar para a faculdade ano que vem. Nossas famílias já mandaram nossos documentos de lá para cá, também já temos documentos brasileiros e vamos fazer o possível para conseguir isso ano que vem”, diz Carlos Cabello.

Enquanto a faculdade não vem, o grupo intercala a venda dos perfumes com pedidos de emprego, com cartazes em semáforos de avenidas dos bairros próximos onde moram. Com experiência em vendas, manutenção de computadores e também em alvenaria, os jovens dizem que só querem uma coisa: oportunidade.

“Com o perfume a gente se sustenta, mas queremos algo estável, de carteira assinada, e sem exploração. Só assim a gente vai conseguir pegar empréstimos e também planejar o que vem pela frente. Como está agora, podemos só nos manter”, finaliza Jean Carlos.

FONTE:https://g1.globo.com

Comentários