"Eu acredito que com o conhecimento e com os estudos a gente adquire conhecimentos que ninguém tira de nós. A gente pode discutir, ter uma relação social melhor com outras pessoas, entender o próximo e muitas das vezes mudar nosso ponto de vista, porque a gente só aprende a respeitar alguém quando a gente entende a história dele", declarou Joana.
Com um único horário disponível, Joana estuda de madrugada. Durante o dia, toma conta de tuas crianças. Acorda às seis horas da manhã para se arrumar, tomar café da manhã e esperar as crianças chegarem. Às 17h vai para o IFPB, em um ônibus da instituição. Na volta, estuda. "A minha mãe me incentiva a estudar porque ela sempre disse que com estudo e conhecimento a gente cresce tanto na vida social, como no trabalho, como pessoa", ressalta.
Maria da Luz, avó de Joana, às vezes precisa de ajuda para ler alguma coisa e recebe o auxílio da neta. "A minha avó tem a sabedoria dela e com ela todos os dias eu aprendo algo novo, aprendo a ver o lado do próximo e que respeitar é o essencial, que antes da gente falar algo ou julgar, precisa ver a história dele. Porque a gente só vai respeitar tendo conhecimento da história dele", relata.A avó de Joana conta que não teve condições de estudar na infância. Morava na roça e, muitas vezes, não tinha nem o que comer. Separou do marido e foi morar em João Pessoa. Trabalhou em casa de família, como doméstica, e a filha dela, mãe de Joana, também não teve condições de estudar e precisou ir trabalhar. "A mãe dela criou ela sozinha", conta Maria da Luz.
"Eu acho um privilégio uma neta ensina a avó que não teve a oportunidade no tempo da infância. No meu tempo não tinha escola pública e meu pai não tinha condições [financeiras]", desabafa Maria da Luz.
Quando concluir o curso técnico do IFPB, Joana quer cursar Gestão Ambiental na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e prestar concurso para trabalhar no Ibama. "Me sinto orgulhosa por ela se dedicar ao estudo, porque a pessoa também tem que querer. Se não tiver esforço, não consegue, ela se esforça, mesmo na dificuldade que ela teve, ela está conseguindo", Maria da Luz de orgulha.
"Quando eu tiver formada e concursada pretendo dar um futuro melhor tanto par minha mãe como para minha avó, são as mulheres da minha vida", declara Joana.
Para Kaline Lima, coordenadora da Central Única das Favelas na Paraíba (Cufa), que chegou ao estado em 2008, a importância que a família dá quando essa jovem prioriza a educação está no intrumento de transformação social. "[A favela] é um universo extremamente promissor, com muitas possibilidades. A favela é potência. É isso que a gente constata no dia a dia. Essas mulheres são exemplos para toda comunidade", declara Kaline.
FONTE:https://g1.globo.com