Alta dos juros pode se tornar ineficaz para controlar a inflação; entenda
O que acontece..
Publicado em 10/04/2021

Analistas alertam que o país pode ver a política monetária perder eficácia, caso não corrija os rumos das contas públicas. Ou pior: entrar num quadro de dominância fiscal.

A alta dos juros pode ser insuficiente para controlar a inflação no Brasil. Sem corrigir os rumos das contas públicas, alguns analistas alertam que o país pode ver a política monetária perder eficácia. Ou até caminhar para um cenário pior: entrar num quadro de dominância fiscal.

 

A forma tradicional de o Banco Central controlar a inflação é pelo aumento da taxa básica de juros. Na prática, a alta da Selic encarece o custo do crédito para famílias e empresas, o que contribui para 'esfriar' a atividade econômica e, consequentemente, a inflação tende a perder força – menos investimentos e menos consumo desincentivam a alta de preços.

Mas o que é a dominância fiscal?

Em um cenário de dominância fiscal, a desordem das contas públicas faz com que a alta dos juros não tenha o efeito esperado – ou seja, a crise fiscal passa a dominar a política econômica do país.

Nesse ciclo perverso, o aumento da Selic não tem o efeito esperado sobre o controle da inflação. Em vez disso, ele eleva o endividamento do país e afugenta os investidores, diante do medo de insolvência – o que provoca a desvalorização do real e, consequentemente, contribui para o aumento dos preços, num efeito oposto ao desejado.Por ora, os economistas dizem que o Brasil não vive um quadro de dominância fiscal, mas o debate sobre a possibilidade desse cenário se concretizar ganhou força depois da aprovação do Orçamento pelo Congresso Nacional. O texto foi classificado pelos economistas como uma peça de ficção.

 

"Eu não diria que o país está na antessala da dominância fiscal, mas o risco de caminhar nessa direção é muito grande", afirma José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetário do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.

 

"Na verdade, o país já está caminhando (para a dominância fiscal) e o que precisa acontecer é um desvio de rota", acrescenta o economista, que também foi diretor do Banco Central.

 

 

Ao aumentar a taxa básica de juros, o custo da dívida sobe. O Brasil já tem endividamento elevado para uma economia emergente, bastante indexado à Selic e com prazo de vencimento relativamente curto.

No ano passado, com todas as medidas adotadas para minimizar os impactos da pandemia, a relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB) subiu para 89,3%, um recorde.

Segundo o Credit Suisse, cada aumento de 1 ponto percentual da Selic representa uma alta de 0,4% do PIB no custo da dívida pública em 12 meses, o que é equivalente a R$ 32 bilhões.

 

"Quando o país tem uma dívida alta, muito curta, com um prazo de maturidade pequeno e muito dependente da taxa Selic, ao subir os juros, o BC aumenta o custo do serviço da dívida", explica Solange.

 

 

  • Aumento de incerteza e o impacto do câmbio

 

O nível do endividamento de um país é um dos principais indicadores analisados pelos investidores e pelas agências de classificação de risco – o Brasil perdeu o grau de investimento em 2015.

Com uma dívida maior, também cresce a incerteza dos investidores com o país, o que afugenta investidores e provoca uma desvalorização do real em relação ao dólar.

Nos últimos 12 meses, o dólar acumula alta de 11,43% em relação ao real.

 

  • Mais pressão na inflação

 

A desvalorização do real provoca um efeito inflacionário em diversos setores da economia, por meio do repasse cambial.

Hoje, além da alta do dólar, a economia brasileira sofre com o impacto do aumento dos preços das commodities e de bens industriais e intermediários das cadeias de produção.

A turbulência econômica causada pela pandemia de coronavírus provocou um descompasso nas cadeias globais. A crise sanitária paralisou ou reduziu a produção em muitos setores de vários países. E essa interrupção provocou uma escassez de produtos.

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