Coordenado pelo professor Elcio Abdalla, da Universidade de São Paulo (USP), o BINGO é um projeto liderado pelo Brasil com cooperação internacional, que vai estudar cosmologia e astrofísica, buscando vestígios de matéria e energia que estavam presentes na formação do universo, após o Big-Bang, por meio de ondas de rádio.
“Atualmente a instalação do BINGO está em fase adiantada. Ainda não terminamos apenas porque perdemos tempo precioso com a pandemia. O fato de não estarmos reunidos e de tudo ser resolvido à distância, a falta do material humano para a preparação do terreno, principalmente, atrapalhou. Mas foi preciso, afinal não queríamos pôr em risco a população de Aguiar nem os nossos próprios trabalhadores. Nas próximas semanas vamos estabelecer o primeiro equipamento que vai observar diretamente as rajadas rápidas de raio”, disse Élcio em transmissão pela internet.
O equipamento se trata do telescópio batizado de “Uirapuru”, que é auxiliar do BINGO e uma espécie de protótipo do equipamento que vai estar no radiotelescópio principal. O pesquisador Amilcar Queiroz, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), explica que o Uirapuru já está em fase de testes na própria universidade.“Nós fizemos o software, uma sala de controle e já ajustamos os receptores. Atualmente, fazemos medidas de teste. O objetivo agora é ver se a gente consegue captar algumas fontes de rádio já conhecidas para ensinar o telescópio a medir as rápidas rajadas de raio, que é o nosso grande objetivo”, disse Queiroz.Quando estiver em funcionamento, o BINGO vai captar radiação emitida por átomos de hidrogênio em um período remoto, quando o cosmo tinha entre 7 e 11 bilhões de anos de idade.
“A principal pergunta científica que nos motivou ao projeto é saber o que significa a chamada parte escura do universo. A parte que vemos corresponde a apenas 5% do universo e é muito pouco. Temos objetos 20 vezes maiores e mais intensos e que nós não compreendemos. Além disso, queremos compreender também a origem das emissões enormes de energias que, inicialmente, pensava-se ser algo terrestre ou um ruído, mas depois verificou-se que era energia vinda do espaço”, explica Elcio Abdalla.
O BINGO consiste de dois pratos gigantes, com cerca de 48 e 32 metros, feitos de grades de metal entrelaçados, chamadas de espelhos. Elas vão coletar e rebater as ondas de rádio. Ao fundo, existem antenas, que são apelidadas de cornetas. Os dados são captados pelos espelhos, traduzidos e tratados pelas cornetas e transmitidos pela internet para os pesquisadores.“Com a conclusão do telescópio auxiliar e o fim da parte estrutural inicial em Aguiar, vamos começar a construção física do radiotelescópico, que deve se iniciar até o final deste ano. Como as cornetas já estão em preparação, devemos ter o projeto testado e em pleno funcionamento provavelmente no segundo semestre de 2022”, completa Elcio.
Segundo conta o professor Elcio Abdalla, alguns outros locais foram cotados inicialmente para colocar a pesquisa em prática. O Uruguai foi o primeiro a ser descartado. No Brasil, o Rio Grande do Sul, Brasília e Bahia também tiveram suas áreas estudadas para concluir um local fixo. Mas foi a Paraíba o estado que deu mais viabilidade para a pesquisa sair do papel.
“Vimos um céu claro”, destacou o professor. Uma questão importante, já que o trabalho utiliza ondas de rádio e eletromagnéticas. Portanto, o local, com poucas antenas de celulares e circulação de avião, era propício para execução do projeto.
Fonte:https://g1.globo.com