Por que não há ataque de tubarão em praias da Paraíba, apesar de ser comum em Pernambuco?
O que acontece..
Publicado em 07/03/2023

Biólogo explica que diferenças entre as praias dos estados vizinhos fazem com que casos sejam raros na Paraíba. Já no Grande Recife, três casos foram registrados nos últimos 15 dias.

Nos últimos 15 dias, três ataques de tubarão aconteceram no Grande Recife, em Pernambuco, estado vizinho à Paraíba. Estes ataques são recorrentes, e desde 1992, quando começaram a ser registrados, foram 77 casos envolvendo tubarões no estado. Apesar da proximidade entre os estados, por quê os tubarões não chegam à Paraíba?

 

Segundo Jocelmo Cássio de Araújo Leite, biólogo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e doutor em produtos naturais e sintéticos bioativos, algumas espécies de tubarões já foram vistas aqui no estado, porém, apesar da presença, os ataques são extremamente raros, sem registros científicos dos ataques.

Conforme o pesquisador, só há um registro histórico de ataque de tubarão na praia do Bessa, em João Pessoa, há muito tempo.

 

Por que acontecem tantos ataques em Pernambuco?

De acordo com a pesquisadora Mariana Azevedo, coordenadora do Núcleo de Pesquisa Fábio Hazin, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), uma série de fatores faz com que os ataques sejam mais frequentes em Pernambuco:

 

  • topografia do litoral pernambucano, com canal profundo perto da costa e antes dos recifes de coral, o que facilita a passagem dos tubarões quando a maré sobe;
  • escassez de comida, devido à degradação ambiental, nos canais para onde os tubarões são atraídos;
  • construção de complexos portuários e o esgoto na região.

 

Ainda segundo Mariana Azevedo, as características econômicas da população também influenciam na frequência desses ataques.

"O passeio da praia, de mar, é o mais barato. É o que todo mundo pode ir, o mais democrático. Então, o encontro com a população vai ser mais frequente se tem mais pessoas na praia", disse.

A pesquisadora explicou, também, que tubarões não são atraídos pela carne humana, mas são animais curiosos, que gostam de explorar o ambiente.

"Infelizmente, a oferta de alimento é muito baixa e eventualmente ele vai investigar o que tem para comer. Não é porque ele gosta da gente. A carne da gente nem presta para ele. Ele nem curte, mas acaba mordendo. Sente o gosto e, eventualmente, até acaba jogando fora, regurgitando quando vê que não é do hábito alimentar dele. Aí, já fez estrago grande", declarou.Já na Paraíba, conforme Jocelmo Leite, estes fatores não são encontrados.

“O ecossistema paraibano é bastante equilibrado, diminuindo mais ainda a atração de tubarões para essa região”, explica. A aproximação dos tubarões da região costeira acontece principalmente em fêmeas que buscam um lugar seguro para dar à luz. Por esse motivo, elas evitam praias com grandes aglomerações de banhistas. “Além disso, é um comportamento natural da espécie a interrupção da alimentação durante o parto para evitar a alimentação do filhote da mesma espécie”, detalha o professor.“A principal espécie encontrada na Paraíba é a Ginglymostoma cirratum, conhecida popularmente por tubarão lixa. Ele é encontrado principalmente na região costeira de João Pessoa, habitando tanto recifes naturais como artificiais (naufrágios)”, explica o professor.

Segundo ele, trata-se de uma espécie de hábito noturno, por isso não é comumente vista por pescadores ou banhistas. Alguns estudos na literatura científica também apontam relatos de pescadores artesanais que teriam visto a presença de tubarões-martelo, tubarão-branco e tubarão-baleia. “No entanto, essas últimas espécies são raríssimas no litoral paraibano”, ressalta Jocelmo Cássio.

No dia 21 de março de 2021, uma espécie rara de tubarão-martelo foi vista no litoral de João Pessoa. A espécie é a maior das 11 espécies de tubarões-martelo no mundo e pode chegar até 6 metros de comprimento total.

Fonte:https://g1.globo.com

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