Após disparar com greve dos caminhoneiros, inflação oficial desacelera e fica em 0,33% em julho
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Publicado em 08/08/2018
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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,33% em julho, quase 1 ponto percentual abaixo do registrado no mês anterior, quando a taxa disparou 1,26% em meio à alta de preços provocada pela greve dos caminhoneiros, divulgou nesta quarta-feira (8) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
IPCA em julho:
No acumulado em 12 meses, o índice ficou em 4,48%, acima dos 4,39% dos 12 meses imediatamente anteriores, mas ainda dentro da meta central do Banco Central, que é de 4,5% para o ano. No acumulado nos 7 primeiros meses do ano, a alta é de 2,94%.
Apesar da desaceleração, o resultado do IPCA veio um pouco acima do esperado. Pesquisa da Reuters apontou que a expectativa de analistas era de alta de 0,27% em julho, acumulando em 12 meses avanço de 4,40%.
Os preços relacionados à habitação (alta de 1,54%) e transportes (alta de 0,49%) desaceleraram de junho para julho, mas foram os que mais pesaram na inflação de julho. Já o custo da energia elétrica teve alta de 5,33% no mês e foi o que exerceu o principal impacto no índice, respondendo sozinho por 0,20 ponto percentual da variação de 0,33% do IPCA.
Além da continuidade da vigência da bandeira tarifária no patamar 2 da cor vermelha, o mais alto do sistema por conta dos baixos volumes dos reservatórios das hidrelétricas, foram autorizados reajustes na conta de luz de regiões como São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Curitiba.
“No ano, a energia elétrica já acumula alta de 13,78% e em 12 meses, de 18,02%”, ressaltou o gerente da pesquisa Fernando Gonçalves.
E a tendência continua de alta no preço da energia. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou na terça-feira que os consumidores irão pagar R$ 1,4 bilhão a mais para cobrir déficit do setor.
No segmento transportes, a alta mensal foi puxada pelos preços das passagens aéreas (44,51%) e do ônibus interestadual (8,7%). Por outro lado, houve queda nos preços dos combustíveis (-1,8%), com deflação nos preços da gasolina (-1,01%) e do etanol (-5,48%), que haviam subido, respectivamente, 5% e 4,22% em junho. O diesel, cujo preço está congelado nas refinarias, recuou 2,39% nas bombas em julho.
Já os grupos alimentação, vestuário e educação tiveram deflação e foram os principais responsáveis pela desaceleração do índice na comparação com junho.
Variação do IPCA em julho por setor:
Os preços do grupo alimentação e bebidas caíram 0,12% em julho, após registrar em junho a maior alta dos últimos 29 meses (2,03%). A queda foi puxada pela alimentação no domicílio (0,59%). Segundo o IBGE, a deflação refletiu, além do aumento da oferta de itens alimentícios, o realinhamento de preços após as altas decorrentes da paralisação dos caminhoneiros.
As principais quedas foram: cebola (-33,50%), batata-inglesa (-28,14%), tomate (-27,65%), frutas (-5,55%) e carnes (-1,27%). Entre as altas, os destaques foram o leite longa vida (11,99%) e o pão francês (2,22%).Já a alimentação fora de casa acelerou para 0,72% em julho, com destaque para o lanche fora (1,40%) e a refeição (0,39%). “Julho é mês de férias, o que eleva o consumo de alimentos fora de casa. Além disso, tivemos Copa do Mundo, o que também aumenta o consumo em bares e restaurantes”, apontou o pesquisador.
Questionado se a desaceleração do índice em relação a junho corresponde ao fim dos efeitos da greve dos caminhoneiros, o porta-voz do IBGE ponderou que é preciso aguardar mais um levantamento mensal de preços.
“Aparentemente, foi pontual o reflexo da greve nos meses de maio e junho. Mas vai ser no mês que vem que a gente vai poder dizer melhor como foi esse efeito da paralisação”
Em meio à recuperação lenta da economia e demanda fraca, a previsão dos analistas aponta para uma inflação de 4,11% em 2018, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.
O percentual esperado pelo mercado continua abaixo da meta de inflação que o Banco Central precisa perseguir neste ano, que é de 4,5% e dentro do intervalo de tolerância previsto pelo sistema – a meta terá sido cumprida pelo BC se o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficar entre 3% e 6%.
Na véspera, o Banco Central informou, por meio da ata da última reunião Comitê de Política Monetária (Copom), que o forte avanço da inflação em junho refletiu efeitos da paralisação no setor de transportes e que os "efeitos desses choques devem ser temporários". Segundo o BC, na ausência de "choques adicionais" sobre a economia, o cenário inflacionário deve revelar-se "confortável" para o cumprimento da meta em 2018 e 2019, sem necessidade aumento de juros.
Para 2018, a meta central de inflação é de 4,5% (com teto de 6,5%) e, para 2019, é de 4,25% (teto de 5,75%).
Com a manutenção dos juros básicos em 6,5% ao ano na semana passada, a terceira consecutiva, a taxa Selic continuou no menor nível da série histórica do Banco Central – que teve início em 1986.
Dentre as 16 regiões pesquisadas pelo IBGE, quatro tiveram índice superior a 0,33%: São Paulo (0,63%), Rio de Janeiro (0,59%), Brasília (0,58%) e Rio Branco (0,51%). Outras seis, no entanto, registraram deflação no mês: Goiânia (-0,05%), Aracaju (-0,06%), Recife (-0,07%), Fortaleza (-0,09%), São Luís (-0,28%) e Campo Grande (-0,37%).O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980, se refere às famílias com rendimento monetário de 1 a 40 salários mínimos, e abrange 10 regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília. Para cálculo do índice do mês foram comparados os preços coletados no período de 28 de junho a 27 de julho de 2018 com os preços vigentes no período de 30 de maio a 27 de junho de 2018.
O IBGE também divulgou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), referência para reajustes salariais, subiu 0,25% em julho, acima da variação de 1,43% de abril.
No ano, o acumulado foi de 2,83%. Em 12 meses, ficou em 3,61%, acima dos 3,53% dos 12 meses imediatamente anteriores.
FONTE:https://g1.globo.com