Ao G1, José Fernando revelou detalhes de como chegou até a mãe adotiva. "Ela [a mãe biológica] resolveu me levar para uma praça pública. Ela me colocou em uma caixa, não sei se de sapato. Passavam algumas pessoas e ela ficava me oferecendo. Passou uma senhora que conhecia minha mãe do coração, falou para ela da criança, e ela foi lá e me pegou", disse.
Após pegar o bebê, a mãe adotiva do juiz o levou para o interior da Paraíba e o registrou como filho, fazendo o que é conhecido como adoção à brasileira. O magistrado só tomou conhecimento da história dele aos 6 anos, quando os pais o levaram de volta para João Pessoa, já que iria começar a estudar.
José Fernando se tornou filho de um sargento da Polícia Militar e de uma dona de casa. "Tivemos uma vida muito humilde, muito sacrificada. A casa em que eu morava era simples, tinha apenas um corredor, não tinha geladeira... Mas eu fui criado com muito amor e muito carinho", recordou.
O juiz, que é casado e tem três filhos - dois advogados e uma médica -, afirmou que o pai foi a inspiração para ele ter se dedicado tanto aos estudos. "Meu pai, como militar, me criou com muito rigor. Ele me dizia: 'Meu filho, seu amigo sou eu, enquanto vida eu tiver. Depois seu amigo vai ser seus estudos'", lembrou.
"Não tem outra fórmula para uma pessoa ser alguém na vida sem ser por meio dos estudos", José Fernando Santos.
O magistrado defende que o processo de escolarização, profissionalização e inserção no mercado de trabalho deveria ser implantado no Brasil. "Se o nosso país tivesse investido na educação, com certeza, dentro de 20 anos, teríamos outro Brasil. Tudo na vida a gente precisa ter objetivo. Eu sempre acreditei muito nos estudos. Estudei muito, com afinco. E acredito que, sem estudos, não se chega em lugar nenhum", destacou.
Sobre a mãe biológica, ele garante que não tem nenhum ressentimento com relação à ela: "Ela teve uma atitude nobre, altruísta. Muitas mães, em vez de maltratar, seria melhor que tivessem tido a atitude dessa mulher [de entregar a criança para a adoção]"."Muitas pessoas têm um certo receio de adotar, falando que essas crianças podem vir com problemas de ordem genética, que elas podem ser filhas de um ladrão... Mas não tem nada disso. A própria Bíblia diz que no momento em que você acolhe alguém, você pode estar acolhendo um anjo em sua casa", finalizou.
José Fernando trabalha como juiz desde 1994. A graduação em direito foi pela Universidade Estadual de João Pessoa, em 1982. Ao G1, ele contou que quem sugeriu a carreira do direito para ele foi a esposa, quando eles eram noivos.
O pai queria que o magistrado seguisse a carreira militar. José Fernando chegou a fazer o concurso da Polícia Militar, mas não foi aprovado. Para ele, Deus tinha reservado "outros horizontes, outros caminhos".
Quando se fala na carreira de magistratura, José Fernando diz: "É uma coisa que eu gosto de fazer. O conselho que eu sempre dou é: Não façam nada pelo dinheiro, façam porque vocês gostam".
Devido à própria história, o juiz escolheu terminar a carreira na Vara Infância e Juventude. No local, ele é responsável por 16 cidades na área de adoção. Ele também revelou que quer se aposentar quando chegar aos 35 anos de trabalho. "Eu pretendo nunca mais olhar para um processo na minha vida", contou entre sorrisos.
Fonte:https://g1.globo.com