MP abre procedimento para acompanhar investigação de mortes do MST na Paraíba
11/12/2018 14:19 em O que acontece..

Promotoria de Alhandra, cidade onde ocorreu o duplo homicídio, vai acompanhar autoridades policiais.

Um procedimento administrativo foi aberto pelo Ministério Público da Paraíba para investigar as mortes dos dois integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST) em um acampamento em Alhandra, no sábado (8). O inquérito aberto pelo MP tem como objetivo acompanhar as autoridades policiais no trabalho de investigação do duplo homicídio.

 

José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando, de 46 anos, e Rodrigo Celestino, de 38 anos, foram mortos a tiros na noite de sábado durante o jantar em uma das casas do acampamento Dom José Maria Pires, em Alhandra. Orlando, uma das lideranças do MST na Paraíba visitava o local, e Rodrigo morava no acampamento montado na fazenda Igarapu desde julho de 2017.

A promotora de Justiça de Alhandra, Ilcléia Mouzalas, instaurou procedimento administrativo para acompanhar as investigações e está em contato direto com a delegada que preside o inquérito policial e com o delegado-geral. O procurador-geral de Justiça, Francisco Seráphico Ferraz da Nóbrega Filho, também designou o promotor de Justiça Márcio Gondim para auxiliar nos trabalhos da promotoria de Alhandra.

De acordo com o Ministério Público, os procedimentos foram instaurados devido à possibilidade de ofensa a valores democráticos, sociais e constitucionais, que são de alta relevância para o Ministério Público, como o direito à vida e o direito à liberdade de associação e organização social.

Fazenda pertence à usina condenada

 

A usina proprietária da fazenda Igarapu, na cidade de Alhandra, na Paraíba, onde foram assassinados dois integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em um acampamento, já foi condenada em 2010 pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) pela morte do trabalhador rural Luis Carlos da Silva. O crime aconteceu em 1998 na cidade de Goiana.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que a fazenda Igarapu, área em que foi montado o acampamento Dom José Maria Pires, pertencia ao grupo João Santos, empresário pernambucano que detinha a Companhia Agroindustrial de Goiana (Caig), que entrou em processo de falência.

A Caig, por meio de seu setor jurídico, informou que não reconhece que a fazenda Igarapu faça parte de suas propriedades. Ainda de acordo com o jurídico, o local era usado para o plantio de bambus e a Caig trabalha apenas com o plantio de cana-de-açúcar. O jurídico explicou ainda que não tinha conhecimento do histórico da propriedade.

 

Histórico familiar

 

José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando é o segundo de três irmãos ligados a movimentos sociais que foi executado no estado. Em 2009, um outro irmão de Orlando, integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens na Paraíba, foi morto em uma emboscada. O terceiro irmão, Osvaldo Bernardo, vive sob regime de proteção para defensores dos Direitos Humanos.

 

A morte de Orlando é parte de uma estatística levantada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) que indica um aumento significativo dos assasinatos de lideranças de movimentos sociais. Dos 24 assassinatos registrados neste ano, 54% são de líderes de movimentos agrários, indígenas, quilombolas e ribeirinhos, de acordo com a CPT.

 

Investigação

 

A delegada seccional da região de Alhandra, Roberta Neiva, explicou que os suspeitos que executaram a tiros os dois integrantes do MST conheciam a área e o funcionamento do local. Os suspeitos entraram no acampamento sem quebrar as cancelas que controlam a entrada de pessoas e veículos.

“O perímetro me diz que quem entrou e saiu conhecia a área. O que a gente tem absoluta certeza é de que os dois homens que foram mortos não estavam sozinhos no local. Não parece ter sido um abrir fogo, aparentemente, os disparos foram direcionados às duas pessoas”, comentou.

Ainda de acordo com a delegada, foram solicitadas diversas diligências a respeito do caso, a todos os órgãos público citados, entidades ligadas à reforma agrária e às empresas da região. "Não podemos descartar nenhuma linha de investigação, pois o inquérito está na fase inicial. Os crimes foram registrados em um dia que não era útil, então estamos solicitando essas informações oficiais somente nesta segunda", detalhou.

Orlando foi velado e enterrado na cidade de Mari, a cerca de 60 km de João Pessoa. Ele morava no assentamento Zumbi dos Palmares, na mesma cidade. Orlando era um dos coordenadores do MST na Paraíba.

FONTE:https://g1.globo.com

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