MP investiga áudios com suposta negociação de licitação para a Secretaria de Saúde da PB
09/02/2019 11:30 em O que acontece..

Áudios tratam de uma suposta negociação de licitação entre secretários e empresário.

O procurador-geral do Ministério Público da Paraíba, Francisco Seráphico, informou que vai investigar sob a ótica criminal áudios divulgados nesta sexta-feira (8) contendo uma suposta negociação de licitação para a Secretaria de Saúde da Paraíba.

 

“Os fatos serão analisados dentro da investigação da Operação Calvário, para se aferir a pertinência ou não com o seu objeto”, afirmou o procurador.

Em um dos áudios, seria possível ouvir o ex-secretário de Saúde, Waldson Souza, o procurador-geral do Estado, Gilberto Carneiro, e um empresário não identificado. Eles estariam combinando como seria o procedimento para que a empresa em questão seja a ganhadora de uma licitação na área de saúde.

 

  • Empresário - E aí… caso houver a licitação, assim, que vai haver, né!
  • Waldson - Vai haver...
  • Empresário - E aí, como seriam as formas?
  • Waldson - Não, aí você tem que tá com tudo, certidão negativa.
  • Empresário - Não isso aí não, isso eu tô tranquilo. Mas se aparecer mais gente, tal.
  • Waldson - Vai aparecer...
  • Empresário - Vai!
  • Waldson - Pra enterrar, inclusive, entendeu?
  • Empresário - Entendi.
  • Waldson - Aí nós temos que ter... É isso que eu vou verificar, nós temos que ter coisas nesse projeto básico que não permitam, entendeu, muita flexibilidade.
  • Empresário - É... nós temos essa parte de, do sistema que vai ser instalado, pro controle disso tudo. Esse teu inclusive é um pessoal já daqui que conhece bem e ele é que desqualifica quando não tá...
  • Waldson - Essa é uma exceção que vai chamar muita atenção, viu Gilberto.
  • Gilberto - Vai...
  • Waldson - Vai! Porque as empresas vão brigar muito. Primeiro vão ficar puto porque vão perder o mercado, depois vão começar a questionar como é que vai ter um, vai ter que questionar a patente das marcas, vão colocar as exclusividades de recurso... Pode ter certeza.Em outro trecho dos áudios, o secretário Waldson Souza supostamente afirma que o contrato será superfaturado. Eles também combinam como o esquema deve fluir para não vazar e falam em evitar o uso de emails.

     

    • Waldson - Agora, Gilberto, isso aqui é o seguinte: eu vou apresentar esse projeto básico... Esse projeto vai depender de você digitar também.
    • Empresário - Tá.
    • Gilberto - Hum...
    • Waldson - Porque eu vou botar ele no padrão da secretaria...
    • Empresário - Vou passar tudo pra você digitar...
    • Waldson - Porque isso aqui é meu, certo, é o termo de referência.
    • Gilberto - Cuidado com essa história de email. Talvez seja melhor entregar num pendrive.
    • Empresário - Certo...
    • Gilberto - Esse negócio de circular no email, não é bom não!
    • Empresário - É… é verdade!
    • Waldson - E isso aqui é uma planilha nossa que eu vou... papel timbrado, tal, e adequá-la pra a nossa realidade com um valor maior, certo, porque isso aqui é minha estimativa de custo pra o projeto desse porte.

     

    O procurador-geral do Estado, Gilberto Carneiro informou que está tranquilo, mas que só vai se pronunciar sobre os áudios posteriormente. O secretário de Planejamento Waldson Souza não atendeu às ligações e não respondeu às mensagens da reportagem.

    O governador João Azevêdo afirmou que não tomou conhecimento dos áudios. "Eu acho que é preciso se ter muita cautela quando se faz julgamento e pré-julgamento", disse.

    Operação Calvário 2

     

    Na ocasião, foi cumprido um mandado de prisão contra Leandro Nunes Azevedo, que era assessor da Secretaria de Administração e foi exonerado recentemente, além do empresário Daniel Gomes da Silva - suspeito de chefiar a organização criminosa - e Michelle Louzada Cardoso. Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra Waldson Souza (atual secretário de Planejamento e ex-secretário de Saúde), Livânia Farias (secretária de Administração) e Analuisa de Assis Ramalho Araújo (empresária ligada ao ramo alimentício).De acordo com as investigações, no dia 8 de agosto de 2018, Leandro Nunes recebeu uma caixa de vinho com dinheiro em um hotel na orla do Rio de Janeiro. O momento foi gravado pelas câmeras de segurança e está na denúncia do Ministério Público. A caixa foi entregue por Michele Louzzada Cardoso, que atuava juntamente com Daniel Gomes, líder da organização criminosa, conforme o Ministério Público. Desde 2016 até agora, o grupo teria desviado R$ 15 milhões pelo país.

     

    A investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) sobre o desvio de dinheiro público da saúde por organizações sociais levanta a suspeita de que o dinheiro entregue a Leandro Nunes era para a campanha eleitoral de 2018. O grupo atuava através de duas organizações sociais: a filial gaúcha da Cruz Vermelha e Instituto de Psicologia Clínica, Educacional e Profissional do Rio de Janeiro, o IPCEP.

    Nos últimos oito anos, a Cruz Vermelha e o IPCEP receberam dos cofres públicos pouco mais de R$ 1,7 bilhão em todo o país. A Cruz Vermelha é responsável pelo Hospital de Trauma da capital desde 2011, e recebeu até setembro de 2018 mais de R$ 930 milhões.

    O IPCEP administra o Hospital Geral de Mamanguape e, de julho de 2014 até setembro de 2018, recebeu do estado mais de R$ 110 milhões.

    Em novembro de 2017, a organização social começou a atuar no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, em Santa Rita, e, até dezembro de 2018, recebeu pouco mais de R$ 62 milhões, segundo o Ministério Público.

    Na ocasião da operação, o Governo do Estado divulgou uma nota reafirmando a posição em continuar trabalhando para assegurar a manutenção da qualidade da prestação de serviços em todas as unidades hospitalares em funcionamento sob contratos com organizações sociais, protegendo a gestão e a aplicação correta dos recursos públicos. Também disse estar pronto para cobrar que os contratos sejam seguidos na sua mais eficiente integridade, sem riscos para o erário público e, especialmente, para o bem estar da população.

    Os secretários Waldson Souza e Livânia Farias afirmaram que a nota do Governo do Estado também os representa.

    FONTE:https://g1.globo.com

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