Segundo Alysson, todas as pesquisas anteriores sobre a história do lugar a colocavam como sendo a primeira fábrica de cimento do Brasil ou no máximo da América do Sul, porém a pesquisa feita por ele encontrou materiais e registros que a reposicionou na linha do tempo, sendo a primeira da América Latina.
“Descobri evidências que comprovaram a sua atividade, que era objeto de discussão e dúvida até então. Ainda restavam dúvidas de que ela fosse a primeira fábrica latino americana e até mesmo de que ela havia produzido cimento”, diz.
A pesquisa começou com um estudo bibliográfico sobre o setor de cimento Portland no século XIX em todo o mundo. Segundo Alysson, o Reino Unido era a referência da época, além da França e da Alemanha. Estes países foram pioneiros na fabricação deste tipo de cimento, que só depois começou a ser feito nos Estados Unidos.
“Antes de saber se a fábrica era a primeira do Brasil, precisei identificar se ela, de fato, era uma fábrica de cimento Portland. Estudando o processo produtivo das fábricas europeias e americanas e comparando com as instalações e equipamentos que haviam na fábrica daqui, de fato a fábrica de Tiriri era totalmente compatível e apta a fabricá-lo”, diz.Após esta comprovação, o pesquisador passou para a fase de perícia, investigando no local os vestígios da atividade industrial, para saber se o cimento produzido era consistente com o que aparecia nos registros documentais. “Nas estruturas remanescentes da fábrica restaram os fornos de tecnologia alemã. Eu estudei o processo de fabricação do cimento daquela época e em um dos quatro fornos das ruínas, encontrei material suficiente que tornou possível a pesquisa em laboratório”, comenta Alysson.
A pesquisa teve a fase de campo e depois a de laboratório, com uso de tecnologia de ponta da UFPB. Além dos resíduos no forno, o pesquisador coletou amostras das jazidas de calcário da ilha e também do cimento produzido na época, que estava armazenado em um barril de madeira e que acabou se solidificando com o passar dos anos. Alysson considera a peça um dos mais importantes achados da pesquisa.
“Fiz os ensaios para caracterizar os materiais com várias técnicas a fim de saber se ele era mesmo compatível com o cimento esperado da época. Fiz o comparativo e na verdade identifiquei que ele se alinhava com o Mesoportland, um cimento Portland produzido com o tipo de forno que havia no local”, explica o pesquisador.O orientador de Alysson disse que o estudo revela o pioneirismo da América Latina na produção de cimento Portland, mesmo a fábrica tendo funcionado por apenas seis meses.“Nossas constatações mostram que eles tinham um cimento Portland de qualidade, que poderia ser usado na construção civil. Essa fábrica do século XIX é um marco do pioneirismo tecnológico do nosso estado. Sem essa fábrica, o polo cimenteiro paraibano poderia não ter acontecido ou, pelo menos, ter seu início retardado em décadas”, diz Sandro Marden, que é professor titular do departamento de engenharia mecânica da UFPB.Darlene Araújo, doutora em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), diz que os resultados da pesquisa podem render dividendos importantes e que investir na preservação do patrimônio histórico pode estimular o turismo e a economia na região.“Eu vejo ela (a fábrica) como extremamente emblemática, pelo fato de ter sido pioneira. A gente tem naquele local o registro do início da fabricação do cimento não só na Paraíba nem no Brasil, mas na América Latina. Nós temos os vestígios dessa cultura industrial que aconteceu ali e se mantém naquela ilha”, completa.
Para Alysson, a descoberta é o resultado de um imenso trabalho de equipe, que envolve não só professores e colegas do programa de doutorado, como também colegas de trabalho na Polícia Federal, moradores do distrito de Livramento, em Santa Rita, e também funcionários da empresa que atualmente ocupa a ilha onde encontram-se as ruínas. “Sem eles, teria sido difícil ter esse êxito em tão pouco tempo de pesquisa”, completa.
FONTE:https://g1.globo.com